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Audiodescrição


Áudio Descrição

A Audiodescrição (AD) é uma tecnologia assistiva pensada, inicialmente, para pessoas com Deficiência Visual (DV). Entretanto, já está sendo utilizada também para outros públicos, a exemplo das pessoas com Síndrome de Down ou disléxicos.

A Audiodescrição é um recurso de acessibilidade que amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual em eventos culturais, gravados ou ao vivo, como peças de teatro, programas de TV, exposições, mostras, músicas, óperas, desfiles e espetáculos de dança; eventos turísticos, esportivos, pedagógicos e científicos, tais como aulas, seminários, congressos, palestras, feiras e outros, por meio de informação sonora. É uma atividade de mediação linguística, uma modalidade de tradução intersemiótica, que transforma o visual em verbal, abrindo possibilidades maiores de acesso à cultura e à informação, contribuindo para a inclusão cultural, social e escolar. Além das pessoas com deficiência visual, a audiodescrição amplia também o entendimento de pessoas com deficiência intelectual, idosos e disléxicos (MOTTA & ROMEU FILHO, 2010, p.11).

A AD iniciou no Brasil de modo informal em 1999, quando uma professora de Campinas levava os cegos ao cinema e ficava cochichando no ouvido deles. Em 2000, a Lei n. 10.098, conhecida como Lei de Acessibilidade, trouxe à tona a questão. Começou, assim, a saga para a implementação desse recurso, não somente nas vias comunicacionais, mas com foco nessa área. Em 2004, o Decreto 5.296 regulamentou a lei 10.098, apontando no art. 53 a obrigatoriedade da descrição de voz em imagens na televisão. A partir disso, houve uma série de lutas com reivindicações e contrariedades para efetivamente se ter AD na televisão. Finalmente, em 2011, se conseguiu alcançar o objetivo, mas com apenas duas horas semanais, aumentando progressivamente.

Atualmente, a rede Globo de televisão exibe alguns programas, como Tela Quente, Temperatura Máxima, Encontro com Fátima Bernardes (às vezes), Sessão da Tarde (às vezes) com AD, a qual pode ser acionada por um canal extra de áudio do aparelho.

Paralelamente, existem outras iniciativas para se oportunizar AD no cinema (salas e DVD), teatro e eventos em geral. A mais conhecida é o Festival “Assim Vivemos”, da Lavoro Produções, que exibe filmes internacionais com temáticas predominantemente sobre deficiência. As apresentações são com acessibilidade para todos os públicos e realiza-se nas principais capitais do país. A primeira edição foi em 2003 e sua continuidade acontece a cada dois anos.

Para cinema também já existe o Movereading, um aplicatitivo que pode ser baixado no celular, por meio do qual o usuário acompanha a AD através de um fone de ouvido, mas o filme precisa estar no recurso.

Além dessas iniciativas, existem empresas que promovem peças de teatro com AD. A Teatro Vivo, em São Paulo, apresenta sessões com AD em parceria com a Ver com Palavras. O Festival de Cinema de Gramado/RS apresentou, em 2015, pelo terceiro ano consecutivo, um filme inédito com AD. Assim, outras cidades do Brasil também proporcionam a AD para as pessoas com DV.

Em Porto Alegre, temos empresas promovendo filmes e teatros acessíveis, oportunizando uma média de um a dois eventos por mês.

Para fazer uma AD é necessário, no mínimo, um Audiodescritor roteirista, um narrador (que pode ser o mesmo roteirista) e um consultor que precisa, necessariamente, ser uma pessoa com deficiência visual. Alguns audiodescritores pensam que podem trabalhar sem o consultor, mas acredita-se que esse posicionamento não é viável. Considerando que a AD é feita para pessoas com cegueira ou baixa visão, é fundamental que elas façam parte desse processo de construção. Como diz a frase: “Nada sobre nós, sem nós”. Portanto, para criar um roteiro consistente e eficiente, precisa-se de um consultor que possa apontar detalhes, os quais devem ser informados para a construção da obra na mente da pessoa com deficiência visual.

A AD pode ser gravada ou ao vivo: no primeiro caso, é inserida previamente no programa, filme ou produto a ser audiodescrito, e depois é feita a mixagem. No segundo caso, o próprio nome já diz. O roteiro de AD é inserido entre os diálogos/falas da obra, em qualquer um dos casos, de modo a interferir o mínimo possível no trabalho. Em alguns casos, pode sobrepor os diálogos, mas isso não é indicado, já que a função da audiodescrição é informar o usuário.

A AD pode ser fechada ou aberta: no primeiro caso, ela é ouvida apenas pelo usuário. O mais comum é por equipamento de tradução simultânea, composto por um microfone, preferencialmente fixo na cabine, e receptores. Também pode ser por radiofrequência. No segundo caso, todos têm acesso ao recurso, ou seja, podem ouvir. Ambas podem ser gravadas ou ao vivo.

Como já foi dito, a AD tem a função de informar e complementar a obra para o usuário. Assim, a narração deve ter pouca (ou nenhuma) interpretação, para não competir ou interferir na arte apresentada.

As falas/frases são inseridas entre as falas/diálogos dos vídeos. Entretanto, se esses espaços forem muito curtos e/ou, no caso de vídeos informativos, pode-se combinar e colocar algo no início, já que o objetivo do recurso é informar. O audiodescritor, muitas vezes, precisará priorizar o que é mais importante para o usuário, mas esse é um desafio que o consultor ajudará a construir.

Se você é vidente (pessoa que enxerga), feche os olhos e experimente a sensação:

Referência:
MOTTA, Livia Maria V.; ROMEU FILHO, Paulo (orgs). Audiodescrição: transformando imagens em palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010.

Para saber mais

Acesse o Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis, recém lançado pelo Ministério da Cultura, que apresenta orientações para elaboração da audiodescrição, janela em Libras e legendas.

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